terça-feira, 31 de agosto de 2010

O homem objetivo

O homem objetivo é um instrumento, um precioso, facilmente vulnerável e embaçável instrumento de medição e jogo de espelhos, que devemos poupar e respeitar; mas ele não é uma meta, não é uma conclusão e elevação, um homem complementar em que se justifique a existência restante, um término - e menos ainda um começo, fecundação e causa primeira, nada de sólido, poderoso, firme em si mesmo, que aspire a dominar: antes um delicado, inflado, fino e flexível recipiente de formas, que deve esperar por uma substância e conteúdo qualquer, para então se configurar de acordo - geralmente um homem sem conteúdo e substância, um homem "sem si".

sábado, 28 de agosto de 2010

O mal em evidência

Mas ponhamos desde logo o mal em evidência, em toda a sua diversidade: cada qual nele reconhecerá o que lhe diz respeito pessoalmente. Ao mesmo tempo, dar-te-ás conta de tudo quanto tens menos a sofrer deste descontentamento de ti, do que aqueles que, estando ligados por uma profissão faustosa e ornando com um nome pomposo a miséria que os consome, teimam no papel que escolheram, menos por convicção que por questão de honra.

Para todos os doentes o caso é o mesmo: tanto tratando-se daqueles que se atormentam por uma inconstância de humor, seus desgostos, sua perpétua versatilidade e sempre amam somente aquilo que abandonaram, como aqueles que só sabem suspirar e bocejar. Acrescenta-lhes aqueles que se viram e reviram como as pessoas que não conseguem dormir, e experimentam sucessivamente todas as posições até que a fadiga as faça encontrar o repouso: depois de ter modificado cem vezes o plano de sua existência, eles acabam por ficar na posição onde os surpreende não a impaciência da variação mas a velhice, cuja indolência rejeita as inovações. Ajunta, ainda, aqueles que não mudam nunca, não por obstinação, mas por preguiça, e que vivem não como desejam, mas como sempre viveram.

Há, enfim, inúmeras variedades de mal, mas todas conduzem ao mesmo resultado: o descontentamento de si mesmo. Mal-estar que tem por origem uma falta de equilíbrio da alma e das aspirações tímidas ou infelizes, que não se atrevem a tanto quanto desejam, ou que se tenta em vão realizar e pelas quais nos cansamos de esperar. É uma inconstância, uma agitação perpétua, inevitável, que nasce dos caracteres irresolutos. Eles procuram por todos os meios atingir o objeto de seus votos: preparam-se e constrangem-se a práticas indignas e penosas. E, quando seu esforço não é recompensado, sofrem não de ter querido o mal, mas de o ter querido sem sucesso.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Hopelessly

He was wearing an old and hopelessly ragged black dress coat, with all its buttons missing except one, and that one he had buttoned, evidently clinging to this last trace of respectability.'
(...)
'Excuse me, young man, has it ever happened to you . . . hm . . . well, to petition hopelessly for a loan?'
'Yes, it has. But what do you mean by "hopelessly"?'
'Hopelessly in the fullest sense, when you know beforehand that you will get nothing by it.'
(...)
'Why do you go?' put in Raskolnikov.
'Well, when one has no alternative, there is nowhere else one can go! For every man must have somewhere to go. Since there are times when one absolutely must go somewhere!